segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ocaso do amor em si bemol
Herculano Alencar

Foi-se a última nota musical,
plangente, em dissonante sofrimento:
Um Si bemol, acordes de um lamento,
a sostenir um grande recital!

A partitura enverga-se ao final!
Resta uma só clave em solidão,
no lúgubre sepulcro da canção,
tal qual fora um doente terminal.

Foi-se a última dor de uma paixão:
Um Si bemol, em tom quase divino,
deixando amargo rastro no refrão,

qual mugidos de dor do violino!
Do pinho, um pedaço de ilusão
traz a sonata do amor ao seu destino.

Sumário-de-culpa


Rosa Pena

A razão diz:
— Deixa de bobagem!
Contra-ataca o eterno
coração aprendiz.
—Amor é como tatuagem.
Pode-se arrancar,
mas deixa cicatriz.



domingo, 30 de maio de 2010

secura

angélica t. almstadter


quantas foram as portas
que se fecharam para mim
e quantas abri na marra
quantos foram os risos que engoli
e quantas gargalhadas espalhei
perdi a conta de quanto reboco comi
escalando paredes que não venci
e o mar de palavras que verti
para não afogar sentimentos
nem entalar na garganta arranhada

agora olho ao meu redor
vejo uma mansidão
um silêncio de mim
um estio de sentimentos
uma secura de solidão
que mal me reconheço

"Mal traçadas linhas"









Escrevo essas mal traçadas linhas...
...penso num beijo .. um desejo tolo,
gosto de adolescência , acinte,
aceno de mente em desalinho!

...mas como dizia ao principiar as linhas,
entedio-me de passar o tempo,
sem ao menos vê-lo em sua orgia
a sorrir de mim , aqui , sempre escrevendo...

... e lendo versos doutras linhas,
quase iguais as minhas neste pergaminho,
amarelecido do jogo da " amarelinha".

Ficaram sem correio as minhas linhas,
pois o carteiro não veio, perdeu-se na esquina
do tempo , que eu tinha , sem prever o fim!
OlgaMatos
fev/2002