sábado, 28 de agosto de 2010

TANTO TEMPO

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Já se passou tanto tempo

Sem te ver e sem saber

Você não está por perto

À espera do momento certo



Para surgir sem avisar

Em qualquer horário

A qualquer instante

Somente para me ver



Ou sorrir sem dizer nada

Sempre o anjo de nós dois

Soprava ao seu ouvido

Vá agora, ela o espera



A luz do dia irradiava você

Aquecia a friagem da noite

Antes de a porta se abrir

Ouvia o barulho de passos



Sabia quanto você me amava

Olhos nos olhos e nada mais

Era preciso, tínhamos a certeza

De que a vida valia a pena.




Conceição Pazzola
Junho/2008

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

hai (de) ti



hai (de) ti

Rosa Pena


Crianças secas e assustadas
descalças até de esperanças.
Lá nem elas sobrevivem.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Trilhas

Angélica T. Almstadter

Atrás da retina; lembranças.
Nos lábios o gosto úmido do beijo,
Ilusão desvanecida
Bem guardada.

Preciosa jóia brilha
Só para meus olhos
Sem ontem,
Tão pouco amanhã.

Os passos vão lépidos
E a estrada encurtando;
Na mochila da memória
Cochilam sonhos
Tão meus e de mais ninguém.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Finesse

Angélica T. Almstadter

Foi-se o tempo pacato da candura,
a hora do recato e inocente compostura.
Ficou um talho aberto pela castração,
cerzido de retalho, atropelo e frustração.

Salve a meretriz que vai a luta;
essa infeliz que tem fama sem ser puta!
Riam sim dessa fulana, criatura hilária
de quem não se sabe a cama, mas a tem por otária.
Viva a doce prostituta que nesse teatro vil
só conhece a labuta, e o gesto servil.

Espuma na língua infame o fel da acusação,
vociferado desde o prenome, sem consternação.
Bravos! Morre a míngua e não sem suspiros
o sorriso com íngua, que viveu entre vampiros!

sábado, 14 de agosto de 2010

Se eu morrer amanhã
Angélica T. Almstadter

Se eu morrer amanhã, preparem uma festa;
Quero minha melhor roupa, música e flores.
Não quero tristeza, eu quero mesmo é seresta
Na madrugada. Que venham meus ex-amores.

Como despedida, quero poesias no ar pairando
Declamadas sem choro, embargadas de emoção.
Quero sentir cada verbete entoado vibrando;
Para aplacar a saudade que levo no coração.

Se eu morrer amanhã, de hemorragia ou agonia;
Me botem um sorriso no rosto com batom e carmim.
Digam a todos que vivi e morri sufocada de poesia.

Contem das tantas palavras que brotavam em mim
Dêem-me sonetos, crônicas e uma infinidade de prosas,
Dêem-me descanso nas muitas rosas que terei enfim.
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Crepúsculo em branco
Lizete Abrahão

Se eu amanhã me for, o tempo é a mortalha,
Meu corpo nu volta nu de onde veio,
Nada mais a cobrir-me, a noite me agasalha.
E não lamentem, vou feliz com o que creio...

É o meu ocaso, hora em que quero dormir
Por trás das tardes dos meus dias exauridos.
Que seja cor de sangue o véu a me cobrir,
Igual às nuvens sobre os mares incendidos...

Silêncio é o que peço, não quero blasfema ,
Para eu poder ouvir o canto de um pardal,
Esqueçam preces, diga um poeta um poema,
Na sua voz serei princípio e meu final...

Quando eu me for, e pode ser amanhã mesmo,
Saibam que deixo aqui meu único lamento:
O de ter sido um verso branco escrito a esmo,
Sem poesia que me seja luz e relento.
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Se eu morrer primeiro
Olga Matos

Mas se eu morrer primeiro,
para que eu possa seguir,
não quero despedidas!

Tragam poemas com muita poesia
pra brincar com os meus
ditos, pensados, escritos com cheiros
da terra, da mata, de mar ,de brisa...

ah, e não esqueçam de chorar de alegria,
pois as tristezas do mundo chorei
e o resto levei pra não ver meus filhos
e amigos de prosa, risos e brincadeiras
chorarem de tristeza!!!

Flores...sim, mas rosas não as sacrifiquem,
se tiverem, me tragam margaridas
pra que eu possa, sozinha,
sorrir versos em cada pétala
tal qual fiz ilustrando a vida:
mal me quer, bem me quer...
quero, não quero...
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Crepúsculo da vida
lucelena maia - 07/08/2010

Quando eu respirar novos ares
no remanso de diferente poente
com sol entardecido, morrente,
eu saberei de outros lugares...

Talvez eu me veja num jardim
envolvida por flores infinitas
rodeada por pessoas em visita
ou por, entre, anjos querubins

Florirei essa nova morada
com as mais belas poesias
dos cochichos de meus dias
com minha alma inspirada

Serei feliz nos braços da lua,
se não chorarem a minha paz,
na lápide, mandem crivar; mais
uma alma que perpetua...

Com lembrança tenra e serena,
os homens de boas entranhas
brindarão o meu adormecer
louvando o verde das montanhas
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O beijo da morte
Herculano Alencar

Quando a morte vier ao meu encontro,
vou beijá-la na boca espavorido.
Vou doar-me inteiro e, possuído,
provarei que há muito eu estou pronto.

Eu vou conter o ímpeto do pranto,
tocar seus seios murchos, combalidos,
até que quase morto, num gemido,
entregarei min'alma aos seus encantos.

E doarei também os meus quebrantos,
a minha velha figa, os meus santos...
e todos os penhores que eram meus.

No último suspiro, já cansado,
antes de ter o corpo abandonado,
ainda darei tempo pro adeus.
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O destino de todos

TecaMiranda


Nem penso em morrer

vou deixar acontecer.

Velório não quero,

logo estarei voando

sem urna a me prender.

Minha lembrança ficará

o resto não me importa.

Estarei presente nas ações

deixadas por mim.

Para perpetuar o amor

serei semente no infinito

cantando nos corações

daqueles que ficaram.

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Fragmentos
Valdez

Quando se for a luz do meu olhar...
Para ver os verdes campos do além,
Sim, sei, não farei falta a ninguém,
De saudade ninguém há de chorar.

Quando cessar no meu falar o canto,
O verso, mudo, não puder cantar,
Ninguém no mundo vai querer lembrar
Da minha vida, meu pesar, meu pranto.

Mas se te dei algum contentamento,
E se algum dia em algum momento
Me viu como meu coração a vê...

Guarda de mim, pela eternidade,
Pequenos fragmentos de saudade:
Estes versos que fiz para você!
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Despedida

Conceiçao Pazzola


Quando algum dia eu morrer

Quero você sorrindo para mim

Lembrando que fomos felizes

Cuidando de nosso jardim


Quando algum dia eu morrer

Cercada de entes queridos

Frutos de mim de você

Sem lágrima e rancor antigo


Quando algum dia eu morrer

Faça chuva, faça sol lá fora

Não quero lhe ver entristecer

Cante baixinho nessa hora


Felizes de nosso alegre passado

Nada vai mudar meu amor

Sempre estarei ao seu lado

Seja por onde você for.

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Se eu morrer amanhã
Célia Lamounier de Araújo


Quando eu me for

quero deixar-me em você

nas pequenas coisas que gostas.


Mas, lembre-se bem:

Morrer é o final de uma caminhada.

Não devem fazer disso uma tristeza

Porque morrer é simplesmente partir,

Mudar de vida, talvez ir e voltar.


A casa, as coisas devem ficar um tempo

Do mesmo jeito, no mesmo lugar

Para que o espírito possa livremente

Rever feliz a vida construída.

E sorrindo... ouvir os casos relembrados.


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sábado, 7 de agosto de 2010

INSTANTE

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INSTANTE


A gota d’água oscila
Na ponta de uma torneira
Contra o raio de sol poente
Refletido numa parede

Um átimo de segundo apenas
E a gota d’água desaparece
Cai, ninguém sabe onde
Some e se desvanece

Talvez ninguém tenha visto
O reflexo do raio de sol
Nele surgiu o teu rosto

Quem sabe talvez o meu.
Ninguém mais lembrará
Quantas gotas d’água

Oscilaram assim, quantas
Sequer tiveram a sorte
Instante mágico de encontro

Com a luz quente e brilhante
Efêmera luz, o raio de sol
Antes de sumir para sempre

E cair no esquecimento
Para onde costumam ir
Infinitas gotinhas d’água.





Conceição Pazzola
01/11/2006.

domingo, 1 de agosto de 2010

Quadro de Avisos

Angélica T. Almstadter

No quadro, um aviso poético
Grafado com letras manuscritas
Quadras exatas em tons melódicos
Dão colorido especial em meio aos itálicos recados.
Uma tarja preta diagonal explica;
Jaz nas linhas desse poema eclético
Intenções lúdicas, impressões escritas.

Enfeita o quadro de avisos lógicos
Um poema prosa de sentidos variados,
Nascido de um sonho anárquico,
Quase que uma liturgia complexa
Emblemada de forma convexa.
Radiante lá está o feito simbólico,
Sussurrado em tom melancólico
Palavras catadas ao vento
Atadas em algum breve momento,
Recolhidas por olhares atentos;
Dormirão em um coração discreto.

Passará como tudo passou um dia
O verso, o poema e a prosa analítica;
Atrás da tarja preta, uma saudade.
Desfilará uma ou outra alegria
Uma ou outra reflexão cítrica;
Só nunca passará de verdade
A veia e a extrema força rasgada
Na emoção da palavra ali grafada.