segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Raiva.



Com as costas apoiada na cabeceira da cama, observava o quarto. Pequeno, pouca mobília, a cama, o guarda-roupa embutido, o espelho e uma mesinha onde estava a televisão ligada num filme pornô.

Notou, estava tudo limpo, cheirando a higiene. Esticou o corpo e desligou a televisão. Aquilo já estava saturando a paciência.

Nisso a porta abriu e ela entrou. Loira, não muito alta, peito firme, cintura delicada, anca cheia, pernas lisas, torneadas, mas o que prendera sua atenção foram os olhos doces, de bondade expressiva, como se neles alojasse a calma precisa.

-Escuta. Você precisa ir agora.

-O que...?

Ela sentou ao lado dele passando a mão no seu cabelo preto.
Mesmo calma, sua voz lenta soou como pequeno estilhaço ferindo sua pele nua deixando-o melancólico e angustiado.

-Por favor, seja amigo como foi até agora e me entenda.

-Está bem. Mas você...

-Eu sei, eu sei. Da outra vez, eu prometo.

Ficou observando ele se vestir. Até que tinha um corpo bonito, cheio, bem proporcionado, tronco forte, ombros largos, e o que ela mais gostava, tinha os pelos nos lugares certos. Gostava dele, mas ele não podia saber.

-Olha, toma.

Sobressaltou-se. Distraída não percebeu que ele já estava vestido e lhe oferecia dinheiro.

-Não precisa pagar.

-Mas tomei seu tempo.

- Tudo bem, a gente mais conversou do que outra coisa.

E foi empurrando ele para fora do quarto. Ao passar pela sala, notou a silhueta de um homem.

-Não deixe de telefonar.

Falou segurando a porta meia aberta.

-Ok.

Já tinha dado uns dois passos quando se sentiu puxado e sua respiração sendo presa pelos lábios dela. Correspondeu sugando o prazer que lhe dava aquela boca. Ao mesmo tempo em que era beijado, sentiu a mão dela na braguilha apertando o pênis por cima da calça com certa força que sem perceber gritou.

-Sua safada.

Rindo ela entrou fechando a porta.

Deu meia volta e desceu as escadas. Do outro lado da calçada olhou para a janela do apartamento. Ela estava sendo abraçada por trás enquanto puxava a cortina. Deu um pontapé na lata de coca que voou longe.

-Droga! Como o mundo é cheio de armadilhas e o ser humano é uma merda.

Foi embora descendo a avenida em direção ao centro....

pastorelli

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

São Paulo - uma cidade encantada

Angélica T. Almstadter

Desvairada quatrocentona
que se ergue majestosa
nas construções seculares
bem como se encharca
pelos túneis e avenidas;
assombrando pela beleza
e ao mesmo tempo
pela fúria da natureza.

Aconchegante metrópole
velha e ainda deslumbrante
que tem um povo trabalhador
hospitaleiro e baladeiro.
Cativa seu turista e visitante
em cada beco de cultura
em cada palmo do seu chão
coalhado de atrações.
Amedronta seus passantes
pela imensidão de concreto
que se estende a céu aberto
e ao longo de intermináveis avenidas.

Bela quase qüinqüentona
que mesmo maltratada
segue imponente
até depois de um verão de dilúvios;
basta que o sol se apresente luminoso
e seu povo  se esquece das avarias,
das perdas e das suas dores mais fundas
para se apresentarem sóbrias,
bem vestidas indo e vindo pelas ruas e trilhos.

Não há chão mais sagrado
que o que nascemos ou vivemos.
Sofremos, choramos,
mas fincado a eles como raízes
florimos todos os dias
para que o mundo veja
a beleza que ofertamos
a quem nos visita e soma forças.

Cidade cinza de coloridos tantos
Enfeita-se de luzes e sons
para agigantar prazeres
dos seus transeuntes.
Proteje seus artistas,
abre os braços para o mundo.
Sua a camisa, estufa redes,
cria e exporta moda.
Generosa metrópole que não dorme
fala muitas línguas,
dança com todas as tribos,
e se acaba no Sambródomo
em plena quarta-feira de cinzas.

Bem-amada selva multi-racial
dos senões e dos desejos tolos;
um brinde a sua elegância
pouco entendida pelos recém chegados.
Um brinde a sua alma doce e tenaz
ao seu abraço carinhoso.
Muitos versos ainda faria e nem assim
cantaria sua atuante beleza;
fecho os olhos e emano energias,
num desejo sincero de Felicidades tantas
a você e sua brava gente.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Egoísta eu?

Angélica T. Almstadter




Eu dependo de mim
porque sou de mim
pai, mãe e inteira
descendência de Eva.
Sou de mim o alvo
começo e o fim
apoteose da vida.

 
Tenho em mim
a semente benfazeja
a energia vital,
o dom sobrenatural,
o sangue da realeza.

 
Eu me contenho
e me basto
em um único cálice.
Sou anjo doce,
criação original
esculpida no ápice.

 
Onde estiver serei
primeira e única,
de mim e para mim
exalando a essência
da melhor existência.

 
Meu diário: a franqueza
sem motivos,
sem objetivos
para o augúrio
de alguma beleza.

 
Cultivo o desprezo
por ser herdeira hilária
do cenário patético
do meu imaginário. 

domingo, 16 de janeiro de 2011

Uma peça em quatros atos.

Primeiro ato.

Reluzente nos trazes finos, com orgulho ostentava im­ponência toda empertigada, ereta, sentada no banco traseiro do carro. Sua posi­ção social dizia para não perder a pose, manter a ostentação sem se desleixar.
Amendoados os olhos olhavam pela pequena ja­nela. Não prestava muita atenção. Conhecia por onde passavam. Fazia sempre esse percurso, quase todo dia. O semblante passivo não dei­xava os músculos se mexerem.
Não se preocupava James competente, dirigia com mão firme sem sair do itine­rário. Confiante, lentamente James virou à esquerda, subindo devagar a avenida dois. No meio do quarteirão, di­minui a marcha, acendeu o pisca-pisca e encostou o carro em frente à loja. James puxou o freio de mão, desligou o motor, desceu passando pela frente do veículo e abriu a porta para a patroa que esperava vendo os movimentos do chofer.
James abriu a porta e respeitoso segurando a maçaneta, ajudou a pa­troa a descer. Devagar, apreciando cada gesto, se excitava saboreando a sensação que causava. A fim de aumentar o impacto, parou no meio da calçada olhando para os lados, e num mo­vimento provocante, eró­tico, com a mão livre, a outra segurava a bolsa, passou a mão no ves­tido justo tentando alisar o amassado por ter es­tado tanto tempo sen­tada.
Ao mudar o passo levando a mão procurando algo para se equili­brar, caiu. Tinha quebrado a perna direita, o palito se partira. Gina olhou em volta. Ah! Aqui está, achei, esse servira, disse trocando o palito que­brado pelo novo que fazia de perna para a boneca. Pronto, continuemos.
James sacudiu a cabeça demonstrando descon­tentamento. A pa­troa mancava! A perna direita estava um pouco maior, diferença pequena, porém sem perder a pose, mancando ela entrou na loja. Encos­tado no carro, James observava. Lamentava a patroa não merecia isso, que decepção, pensou. Em fim o que poderia fazer além de servir, nada mais.
Nisso a patroa saia da loja acompanhada por um funcionário sobrecarregado de pacotes. Prestativo James pegou os em­brulhos e colocou no porta mala, depois abriu a porta dizendo:
- Sinto muito senhora.
- Obrigada James, vamos embora estou cansada.
- Des­culpe senhora se me permite.
- O que?
- Desculpe senhora não vai ser possível não agora.
- Porque James?
- A senhora não ouve?
- Ouvir o que, James?
- Ouça es­tão chamando à senhora.
- O que?
Ergueu a cabeça, re­almente, ouviu seu nome sendo chamado.
- Ah! Justo agora!
Colocou a boneca manqui­tola no chão.
- James, por favor, não saía daí, vou ver o que mamãe quer e já volto.

Segundo ato.

Na sala estavam três mulheres.
A mãe, a tia, cunhada da sua mãe, e a vó.
- Bença vó, bença tia.
Cumprimentou educadamente.
- Deus te abençoe, responderam as duas quase ao mesmo tempo.
- Ah! Gina venha aqui, disse a mãe. Por favor, vá até a casa da tia buscar carvão em brasa para a vó fazer defumação.
- Fale para sua prima escolher os que estiverem bem vermelhos, disse a tia.
- Cuidado para não se queimar, falou a vó.
-Olhe bem antes de atravessar a rua, recomendou a mãe.
Ao abrir a porta, Gina sentiu o sol. Tapando os olhos com a mão, olhou o céu claro. As nuvens brancas estavam bonitas, gostava de ficar deitado no quintal vendo as formas que as nuvens cria­vam.
Bem lá vou eu, pen­sou, em mais uma missão. Pena não ter trazido James para me fazer companhia.

Terceiro ato

Ao encostar a xícara nos lábios, começava a se preocupar.
- A Gina está demorando, disse a mãe.
- Não se preocupe logo ela estará de volta, falou a vó.
- Daqui a pouco ela chega, falou a cunhada.
Nisso ouviram a porta abrir e fechar.
- Ela chegou, disse a mãe se levantando.
Instantes depois estava a frente delas a menina, pálida, tremendo, chorando. Assustadas as três mulheres ajoelharam ao redor de Gina.
- O que foi, disse a mãe.
O que aconteceu, falou a vó.
- Você se machucou, perguntou a tia.
Gina não conseguia falar. Deram um copo d’ água com açúcar. A mãe colocou a menina no colo. Com muito custo conseguiu contar.
A prima pegara umas quatro brasas e enrolara no jor­nal dizendo:
- Olha, se o jornal começar a queimar, volte aqui que te darei mais jornal.
E quando ela atravessava o Jardim da Boa Morte, o jornal pegou fogo. Assustada jogou longe as brasas e o jornal incendiado, e viera cor­rendo. As três mulheres olharam para Gina, uma para a outra, e caíram na gar­galhada.
A menina coitada chorava. Assim Gina ganhou por mui­tos anos o apelido de Maria da Brasa, tudo por causa da prima.

Quarto ato.

Gina fechou o caderno.
Sorriu vendo sua imagem no espelho do quarto. Então o irmão com a mania besta de escritor, escrevera esse conto sobre o que lhe acontecera há.... Quanto tempo? Uns quarenta anos mais ou menos, ela nem se lembrava mais.
Me­xendo nas tranquei­ras descobrira o caderno. Na época dera uma bronca no irmão. Era o seu segredo sendo revelado. Ficou quase uns dois me­ses sem falar com ele. Também quem mandou escrever. Tudo porque, os filhos, os netos, as noras, até o marido tiraram um sarro da cara dela avivando o esquecido apelido.
Agora sentia que fora injusta com o irmão. Essa ma­nia besta de escrever! Nisso ouviu vozes. Chamavam por ela. Pegou o caderno e desceu. Eram os netos. Nossa estavam grandes!
- Olá, vó? Onde estão os velhos, perguntou o mais moço.
- Foram na casa do seu pai, respondeu Gina.
- Vamos lá então pessoal.
Quando iam saindo a neta mais velha se voltou perguntando,
- Vó a senhora estava chorando?
- Não, respondeu rápida escondendo o caderno. Vá, vá com os outros, disse empurrando a neta porta fora.
Assim que o silêncio voltou a reinar, desceu até a garagem. Rasgou folha por folha, riscou um fósforo e queimou o caderno.
Estou queimando o passado, pensou. Não foi ele que disse: temos que enterrar o passado. Depois que o último pedaço tinha sido queimado, saiu fechando a porta.

pastorelli

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Um plano...? Um filme...? Uma vingança...?


Descia a escada quando ela chegou.

A esposa nada dissera que ela vinha. Não tinha a prática de receber visitas. Por isso estranhou.

Constatou a exuberância feminina de Silvana apagando a feminilidade da esposa. Tendo um sorriso largo, dentes brancos, impunha um não sei o que de atrativo. O rosto oval modulado por uma disciplina estética da beleza, reforçado pelos olhos amendoados, era ressaltado pelos cacheados cabelos sobre os estreitos ombros. O busto de seios rijos, quadril no padrão normal aguçava qualquer masculinidade.

- Se eu soubesse que você vinha teria colocado uma camiseta, disse Cláudio cumprimentando.

- Não esquenta! Não ligo para isso, respondeu Silvana.

- Cláudio gosta de ficar a vontade depois do banho, disse Rúbia como explicação.

- Mesmo assim, vou colocar uma camiseta, disse Cláudio subindo a escada.

Revirou as gavetas uma por uma procurando a mais nova, bonita, a que ganhara de aniversário. Olhou-se no estreito espelho da porta do guarda-roupa. Na fria imagem refletida sentiu-se satisfeito.

No momento que o pé direito começava a tocar o primeiro degrau, estarrecido interrompeu o movimento. O que seus olhos viam a mente não queria registrar como verdade o que via. Não pode ser? O que é isso? Retrocedeu o passo suspenso. Rúbia beijava Silvana num escandaloso beijo. Cláudio retrocedeu até se encostar a parede. As pernas tremiam. Sentiu o frio intenso congelar os sentimentos. Uma pedrada não seria tão forte como a dor arrebentando o peito.

Viu seu reflexo no estreito espelho. Com raiva tirou a camiseta bonita jogando longe. Vestiu outra qualquer. Precisava descer. Respirou fundo. Saiu do quarto batendo a porta.

Procurou se concentrar na naturalidade dos gestos ao descer a escada como se nada tivesse acontecido. Enquanto conversavam, prestou atenção nas entrelinhas das palavras. Nos olhares de uma para outra. Nos gestos... Não percebeu nada que pudesse denunciá-las.

Remoendo o cérebro, perguntou a si mesmo o que deveria fazer. No momento não devo fazer nada. Talvez, mais tarde possa pedir uma explicação à Rúbia. A conversa não estava de nada interessando a ele. Subiu para terminar o trabalho gráfico que vinha fazendo.

Fixou no pedestal a filmadora e colocou numa posição privilegiada para que as duas não perceberem. Ligou a filmadora e do micro foi manuseando a câmara. Virava para a direita, para a esquerda, acionava o zoom, deslocava, congelava a imagem, filmava as duas nos abraços e beijos.

Ao mesmo tempo maquinava uma pequena vingança. Durante aproximadamente, uns trinta minutos de gravação, achou suficiente. Retirou a filmadora do pedestal e passou a trabalhar as imagens no computador. Eram cenas explicitas fortes, ousadas em que as duas se extravasaram nas carícias. Ao puxar mais para perto uma cena, em que sobressaia a feição de Rúbia, pode notar a satisfação, o prazer estampado que nunca percebera.

Quando terminou o que tinha de ser feito, passou para uma fita, desligou o micro, guardou a filmadora e fechou o pequeno escritório.

Eram mais de três horas da madrugada. Não vira Silvana sair e muito menos quando Rúbia foi deitar. Ainda bem. No quarto, com maior cuidado para não acordar a esposa, pegou umas roupas, enfiou na mochila e saiu. Deixou a porta do quarto aberta. Na sala ligou a televisão e colocou a fita no vídeo. Programou tudo para ser ligado automaticamente, dali a duas horas e saiu indo para um hotel.


Estava terminando uma cena para um comercial de cuecas, quando ouviu que alguém entrava. Minutos depois, Sandro apareceu.

- Olá! Como está?

- Estou bem, disse Cláudio cumprimentando o amigo com um
beijo.

- Já está definitivo aqui?

- Sim.

- Então deu tudo certo?

- Veja você mesmo.

Sandro leu :
_____________________________________________________________
De : Rúbia rub@romantic.com

Para : Cláudio clad@dico.com.br

Enviada em : 16 de junho de ...

Assunto : Perdão

Cláudio me perdoe se te magoei.
Você saiu repentinamente.
Ia te explicar tudo.
Mas foi melhor assim.
A fita que você deixou queimei.
Estou em Roma feliz como a muito deveria estar.
Silvana e eu vamos montar um apartamento.

Beijos e felicidades
Rúbia

- Quer dizer que deu tudo certo?

- Melhor que a encomenda.

- Eu sabia que Silvana não iria falhar. Não esperava que fossem se apaixonarem.

- Como você conseguiu convencer ela?

- Com uma pequena aposta.

- O plano era apenas para Silvana se envolver com minha esposa, para que eu tivesse um pretexto e acabar com o casamento.

- Não estou entendendo uma coisa. Ela fala em fita! Que fita é essa?

- Ah! Fita! Não estava mesmo no plano. Não desmascarei as duas no ato. Filmei toda a relação amorosa das duas, e no micro trabalhei as imagens. O que deu um filme de uma hora mais ou menos. Fiz duas cópias, deixei uma no vídeo pronto para ser ligado automaticamente, e a outra copia inscrevi no festival Mix.

- Puxa! Pena eu não estar presente para ver a cara dela.

- Mas o melhor vem agora.

- O que?

- Ganhei o prêmio de revelação do festival!

- Ganhou?!

- Vinte mil reais!

- Caramba!!

- E vendi os direitos do filme para uma distribuidora, que nesse momento creio já espalhou para o Brasil todo.

- Nesse quase dois meses que estive fora, você trabalhou!

- Fez boas fotos?

- Fiz. Cada uma... Mas não vamos falar de mim não. Vamos tomar um banho, abrir umas cervejas, e ver esse filme premiado.

- Sinto muito. Só se for alugado. No contrato de venda tinha uma clausula no qual rezava que eu não podia ter nenhuma cópia.

-Que chato!!

- Chato nada. Vamos tomar um bom banho, sair, dançar, festejar sua volta, a minha liberdade e começar a gastar esses vinte mil reais.

-Isso mesmo. Vamos lá então.

pastorelli

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ególatra


Angélica T. Almstadter
09-01-2010



Olha o seu umbigo
não, não deixe que chova
os cartazes da cidade
espalham seus odores



Mais um dia de sol
para sua glória
a vida respira de mansinho
prostrada aos seus pés
você é a mais nova eleita



Seu perfume inala
todo vapor destilado
das gentes
nada é mais forte
que a sua presença



Apesar dos sinais
sua retina não retém
as novas informações
seus olhos passeiam vazios
pela órbita da vida

domingo, 9 de janeiro de 2011

Psiu

Angélica T. Almstadter
 

Estou sentindo falta de silêncio,
falta do frio eco zunindo ao meu redor
que atropela meus pensamentos
e faz com que eu grite em versos.
Cansei do vozerio, dos risos despachados,
do tropeçar em falas e cantorias.
 

Quero de volta o silêncio, a solidão
que me faz ouvir o tum tum tum do coração
que me obriga sentir a respiração.
Me envolve em suores frios de aflição.
O silêncio inquieto que faz perceber-me
ouvir-me, tocar-me
e saber que  guardado dentro de mim
represado querendo explodir
há poemas e prosas em gestação
maturados, querendo nascer;
lembrando que a vida só pulsa vigorosamente
porque aqui a poesia é fonte incessante
mesmo que não ecloda todos os dias.