quinta-feira, 31 de março de 2011

Olhos

Foto : Olhar - Douglas Nascimento
Angélica T. Almstadter

 
Há olhos cravados
nas paredes
na rua,
no chão.
 

Não há olhos
de ler,
de chorar
a cura, a alma pura.
 

Olhos rodeiam
a imensidão
sem nada ver.
 

Nas órbitas tristes
de um branco sem fim
moram os olhos
de uma vida.
 
A vida inteira
se percorre
pelos olhos;
e o olhos vida afora
percorrem a vida.
 

Morre-se
sem dos olhos
entender a razão.
 

Sem deles
ter impresso a paixão
a tristeza dos dias,
o sorriso
ou a dor.

terça-feira, 29 de março de 2011

Balda da forma.

A forma figura
Em forma
Ficou figurada

Ao fitar a forma
Figura figurada
Em forma figurativa
Foi formada

Nesse fitar fixamente
Foi transformada
Em figura fixamente
Focalizada

A figura
De fixamente focalizada
Ficou desfigurada

Mas, a figurativa
Figura fixamente focalizada
Ao ser desfigurada
De figura foi
Em fina forma
Figura formada

pastorelli

quinta-feira, 24 de março de 2011

Balada da foram nº 2.

Na tua mente
uma forma figura
foi formada plenamente
com o tema de:
forma figurada.

Dessa forma figurada
fixamente a figura tornou-se
figura projetada.

Forma figura
projetada
figura formada
ficou figura deformada.

Como se tornou figura
deformada
preciso foi que a forma
figura de figurativa forma
em fina figura ficasse.


pastorelli

domingo, 20 de março de 2011

Celebração da Realidade






Celebração da Realidade

Rosa Pena



Ele se foi sem se despedir dela, caso contrário Ângela teria lutado para que ele não partisse. Seu filho morreu por conta de um marginal que o assassinou por um celular Vivo, o aparelho, seu menino Morto.

Ela não consegue sentir vontade de indultar quem o matou. Sente muita raiva do marginal -bomba, dos malditos direitos humanos que insistem em só abraçar a escória.

Ângela virou uma nuvem carregada de tristeza, uma neblina ambulante com constantes chuvas na menina dos olhos, que agora virou uma velha quase cega.

Mas, além da perda do filho (como se fosse pouco), ainda é obrigada a conviver com a culpa de não saber perdoar, de ter pensamentos de vingança. Sim! A paranóia reinante é não se enlutar, não dar vazão ao choro, que dirá desejar o pior para aquele que acabou com sua vida. Faz mal!

A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?

A Márcia Cabrita (atriz), recentemente numa crônica, afirmou que não nasceu para ser heroína. Ela não tirou de letra o câncer que apareceu em seu ovário. Não conseguiu imaginar a quimioterapia como uma viagem à Disney. Chorou todas e mais algumas e ficou muito grilada com seu justo sofrimento, pois diziam para ela, que só sobrevivem as doenças, pessoas de alto astral. Fique muito doente e sorria. Sofreu duplamente por não conseguir encarar um câncer com otimismo. Faz mal!

A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?

Quando eu parei de fumar entrei numa depressão terrível e não consegui sentir a tal felicidade que os “fodões” garantem como certa.
— É uma delícia viver sem nicotina! Estranhamente eu só conseguia pensar no Fernando Pessoa com o olhar entre fumaças na Tabacaria.

Já se passaram trinta meses e agora gosto demais do meu cheiro e de menos de minha contradição ao sem lenço e sem documento. Meu cagaço venceu minha liberdade. Costumo dizer que vou voltar a fumar quando completar setenta e cinco anos. Já ouvi diversos avisos: Cuidado com esses pensamentos contrários, pois assim você volta agora ao vício. Faz mal!

A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?

Atrai. Atrai. Atrai! Afinal... Atrai o quê? Castigos?
Quanta presunção dos mortais! Desde quando Deus classifica quem vai se dar bem ou quem vai só sofrer? Ele tem suas razões que a nossa razão desconhece. Que fé é essa que obriga as pessoas a mascararem seus sentimentos?

É permitido, mais ainda, é saudável chorar de dor, de medo, temer a morte, pedir castigo para o algoz que lhe feriu, sonhar que o ex morreu, ficar injuriada de abrir mão de um prazer e apesar de tudo acreditar que as coisas ruins acontecem assim como as boas num sistema de cotas. Cada um tem as suas.

Ele pode (sensação que vem com o luto) ter perdido a mão numa tela, mas a aquarela permanece com todas as cores e certamente novas serão pintadas com cores vivas, bem vivas como a Vida.

www.rosapena.com

estrela artificial

angélica t. almstadter


uma estrela solitária
que brilha e brilha
longe dos olhos da razão

 
outrora meiga e solidária
de luz, acercada ilha
alegrava meu coração
 

outras galáxias hoje habita
visitando belos cometas
na realeza do universo
 

na solidão das crises se agita
na ilusão dos betas
na teoria do reverso
 

entre fótons e cósmica poeira
se afasta da mãe Gaia
prepotente estrela primeira
 

seu brilho audaz se esgueira
na ressonância primária
impressa na antiga soleira

sexta-feira, 18 de março de 2011

Engasgado

Angélica T. Almstadter
 

Um sonho engasgado, dormiu no meu peito
Tantas pontas tinha o danado;
Que me fez em tiras, o peito dilacerado.
Dentro desse sonho perfeito,
Guardei desejos desesperados;
A fala rouca, a fina flor exposta
Em camadas mutiladas de saudade.
Doeu tanto que cresceu arranhado,
Apertado e sem proposta.
Quando me acenava de felicidade,
Na poça de sangue derramado;
Brindei com um aceno breve,
Cerzi os rasgos com coragem
E bem antes que recobre a razão,
Me espalho em pedaços na brisa leve;
Meu prenúncio de estiagem,
Recheado com acessos de solidão.
 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Artificialismo.

Sentimentos acarretam perda.
Você me pergunta:
Por que tanto ressentimento?
O que demonstra
Que você não percebe nada
De você não quero nada
Nem amor
Nem paixão
Nem reconhecimento
Se ainda não sabe
Só quero de você
O supremo esquecimento eterno
De me esquecer de que sou só


O dia brilha
Apesar da manhã escura
Mas a rua reflete o reflexo
No asfalto úmido
A pura luz artificial
Que um dia foi nosso amor
Do nosso sentimento


pastorelli

quarta-feira, 16 de março de 2011

Japão




Rosa Pena


As cerejeiras, mais ou menos vivas,
insistem, com muita garra, em acreditar:
Paz nas terras, nas águas e nos homens.

quinta-feira, 10 de março de 2011

AMOR CIBERNÉTICO.

A vida corre suave louca branda
No fone de ouvido enquanto trafego
Nos trilhos urbanos do dia a dia
A luz acende o brilho cinzento opaco
No final do túnel das esperanças nunca esquecidas
Rostos morenos brancos loiros ensandecidos
De beleza fria e paz concreta transitam
Sua carência sexual pelos cantos da alma
Olhos bebem o gás da violência
Nos botecos jornalísticos e no sufar internético
Devorada pela urbanidade desenfreada
A inocência se encolhe nos bueiros poluídos
A boiarem nos rios agonizantes
Os sonhos se estilhaçam no vidro sujo
E a mão permanece a espera do golpe
Que fisicamente não se sente
Idéias projetos delineiam sentimentos fúteis
Sem expressarem a verdadeira sagacidade real
O riso se funde no perpétuo irisante
Onde infinito da agonia resvala
Na linha divisória da felicidade e da alegria
Quem me dera ter da paixão
O sangue vermelho da sensibilidade
E trafegar no fluxo da razão
Sem perder o limite da realidade virtual
E amar você entre
plugs chips software bbs internete...


pastorelli

sexta-feira, 4 de março de 2011

amor acrilico

meu peito
a clara luz do dia
clama pela vórtice do teu ser
lança o laço que laça
o ardor do bico rosado do teu seio fraco

passa cortante por inteiro
pelo leito e clama
clama e grita
ao contato do teu corpo que inflama

meu peito
sussurra e chora
ao beijar o teu ventre derradeiro
corpo acrílico no leito pede
por teu acrílico sexo

silenciosamente penetro
entrelaço amorosamente
teu ser estremecido
sob o jugo do meu ser
meu peito
arfa desperto
pelo barulho agridoce do rádio relógio
suspira aliviado pela urina quente
em contato com a fria louça do sanitário

estremece
na tépida claridade do frio
frio que varre
a pouca quentura que há

meu peito
a clara luz do dia
lembra a noite quente
saudoso
que ficou no quente leito

apago a pouca luz
que havia no amor recente
se escurece morre
em cima do leito quente que era

meu peito
tépido gelado
chora ri dentro do quarto frio
beija no lençol
teu rosado seio que se foi

meu peito
morre... afogado
num copo de bar
afogado dentro da noite
melancólica de um sábado


sem data
pastorelli

quinta-feira, 3 de março de 2011

intimidade poética


Intimidade poética


Rosa Pena



Não pude te ver nu!

No mundo não tinha

só eu e tu.

Não pude te chamar de meu!

Na vida não tinha

só tu e eu.

Segue essa poesia

tentando dizer nós.

Enfim sós.





2004