quinta-feira, 7 de julho de 2011

Corpos.

Nos desenhos geométricos
A cortina rasgada
pelo tempo perdido
Deixa o clarão
da lua penetrar
No quarto de diáfana luz
Inusitados desenhos lambem
Teu corpo ao meu lado nu
Teu meigo sorriso invade
O vislumbre das
estrelas distantes
O vento afasta a cortina
Numa refrescante sombra
Num vai e vem delicioso
De carícias em teu peito
Em teu rosto
Em teus olhos
Em teus cabelos
Entre tuas coxas
Perde-se no escuro emaranhado
De pêlos suaves e doces
Permanecemos imóveis
No silêncio de nos dois
Corpos colados flui
Sensação do meu ser
Para o teu ser
Adormecemos abraçados
Na luz da lua...

Pastorelli

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Civilização.

Civilização será,
Morar na mata selvagem de concreto;
Ouvir o grito ressoando sem ser ouvido;
Ou o tropeçar constante no semelhante,
E o mentiroso cuspindo no próprio ser gerado?

Civilizado, o que é?
Será o traiçoeiro matando para não ser matado,
Ou o assassino fugindo dos algozes e da justiça?
Será o egoísta vendendo a alma ao diabo,
Ou o ganancioso roubando para não ser roubado?

Civilizado será
A crise insuportável no sobe e desce,
O medo escondido de ser traído,
Ou o dormir nas sarjetas imundas,
E o sorrir da criança pedindo esmolas negadas?

Civilizado, o que é?
Será a prostituta se oferecendo a cada esquina,
Ou o trombadinha na multidão afanando?
Será o brilho da faca riscando o ar,
Ou o sangue no chão esborrifado?

Civilizado... será,
A amante jogando no rio o amante cortado,
O marido traído batendo na mulher traída,
Ou a garrafa vazia numa boca a blasfemar,
E os veículos respeitáveis atropelando
Transeuntes descuidados?

Civilizado...o que é?
Será o vício tresloucado na mente dos filhos abandona­dos
Ou a rapinagem dos grandes a engordar?
Será o político falando manso a enganar,
ou as leis absurdas não respeitadas?

Civilizado será,
O progresso derrubando o que não é para derrubar,
O desmatamento sem necessidade,
Ou o morticínio dos animais,
E o índio queimado?

Civilizado será,
O poeta e seus poemas,
A escrita denunciante,
Ou a boca que nunca cala,
E a imprensa ultrajante?

Civilizado, meu Deus, o que é?
É isso tudo ou é uma
Desesperança esperançada
Na fé nunca perdida
E a crença na vida?

Civilizado, ah! Civilizado!
É o amor sempre procurado.
É o filho nascendo.
É o esplendor da velhice surgindo.
É a morte... sempre chorada.

pastorelli