segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Saudades...ando com saudades





 Saudades...ando com saudades

              Rosa Pena



Ando com saudades de café com pão, de namorados dando beijinhos no portão, de pedir bênção a pai e mãe, (Deus te abençoe), do sinal da cruz que fazia quando passava na frente da igreja, de ver um varal cheio de roupa com cheiro apenas de sabão, de ver alguém sorrindo enquanto lava a louça com bucha vegetal, de sentir respeito pela policia, de cantar o hino Nacional com mão no peito e lágrimas nos olhos, de acreditar que o Brasil ganhou a Copa do Mundo porque jogou direito, de saber que o Zezinho filho do porteiro não vai morrer de dengue e que Maria feirante poderá ter um filho médico. Saudades de homens que usavam apenas o assobio como galanteio.Fiu-fiu!

Morro de saudades do tempo em que um presidente de uma nação era o mais respeitado cidadão do país.Que cadeia era lugar só de ladrão. Acho que andaram invertendo a situação.

Ando com saudades de galinha de galinheiro, de macarrão feito em casa com tempero sem agrotóxico, de só poder tomar guaraná em dia de festa, de homens de gravatas, de novela com final feliz, de pipoca doce de pipoqueiro, de dar bom dia à vizinha, de ouvir alguém dizer obrigado ao motorista e ele frear devagarinho preocupado com o passageiro. Saudades de gritar que a porta está aberta para os que chegam. Um saco destrancar tanto papaiz.

Saudades do tempo em que educação não era confundida com autenticidade. Hoje se fala o que quer, em nome de uma "tal" verdade e pedir perdão virou raridade.

Ando com saudades de ver no céu pipas não atingidas pelo efeito estufa.

Saudades das chuvas sem acidez, que não causavam aridez. Saudades de poder viajar
sem medo de homem bomba, de ser recebida com pompa em outra nação.

Atualmente reina a desconfiança no coração.

Sinto muitas saudades do rubor das faces de minha mãe, quando se falava de sexo totalmente sem nexo.

Hoje ele é tão banal que até eu banalizei.

Acho que a maior saudade que tenho é a saudade de tudo que acreditei.

Para minha filha não poderei deixar sequer a esperança. Hoje já não se nasce criança.

Livro PreTextos/rosapena
2003


ps: Mais uma crônica de minha autoria vagando na net sem autoria!
Rosa Pena




Obra completa em meu site pessoal.Clique em:
www.rosapena.com

sábado, 6 de agosto de 2011


Podrão?


Rosa Pena


Diga que me esqueceu!
Que o beijo não importou,
que fui apenas um cobertor,
num dia frio qualquer.

Negue o nosso amor.
Repita
que sou áspera,
unha sem lixa.
Hot dog sem salsicha
suco sem fruta.
Antes eu batia um bolão
agora virei podrão?


Você não me engana.
Ainda vejo sua língua,
umedecendo os lábios,
doida pra dizer que me ama.

Seus olhos?
Ainda procuram os meus.
São sábios.
Discordam desse seu
ridículo adeus.