sábado, 9 de junho de 2012




Salvo-conduto

   Rosa Pena


Eu não sei e nem quero saber se você ainda come badejo com vinho tinto, se ainda fica de porre com duas cervas, se continua regando as plantas com seu xixi, se insiste em dar volta na lida e fazer da sua vida um eterno recreio, se na constante pressa esquece o portão aberto e chora com a fuga do seu cão, que sempre volta. Cachorros são fiéis até no maltrato. Já absorveu esse fato? Eu não sou cachorro não, lembrei da canção.

Eu não sei e nem quero saber, se ainda mente a idade e vive com sua mamãe jurando que a solidão é um problema dela e você a única solução. Ignoro e quero ignorar onde você esteve ontem que dirá onde estará daqui a meia hora, se passou a gostar de chuchu, se continua muito ruim em desenho, se morre de frio apenas porque o céu nublou, se finalmente conseguiu mandar o seu chefe pro Carandiru ou apenas tomar no cu.

Eu não sei e nem quero saber sobre seus receios, anseios, das mulheres que ficam embaixo do seu corpo ou se agora prefere em cima, se permanece com a mania de guardar velhas entradas de teatro se achando o roteirista, de se imaginar o menino do rio, que em mim já não mais provoca arrepio, se ainda jura que ama eterno para primeira chama que lhe acena e a faz por uns tempos primeira-dama.

Eu só sei que você deixou seu cartão de estacionamento, no bolso esquerdo da minha jaqueta bem onde fica meu coração. Honesto pra dedéu teima em fazer a devolução ou vai parar no Pinel.

Apenas por isso que ele com o salvo-conduto de Eros e não eu, que fique bem claro que estou fora disso, pois já lhe esqueci, vive insistindo em saber onde anda você. 





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