Entrevistas - Lau Siqueira


Entrevista com Lau Siqueira

poeta







Nome:  Lau Siqueira

P - Onde nasceu?
 R - Em Jaguarão, no Rio Grande do Sul, uma cidade histórica e muito bela, na fronteira do Brasil com o Uruguai, banhada por um rio lindo...

P - Começou a escrever influenciado por quem?
 R- Eu acho que como todo mundo comecei influenciado pelas minhas leituras. Meus pais eram pessoas simples, de origem camponesa, mas eu tive acesso a alguns livros logo na infância, incentivado por uma irmã. Na adolescência eu lia despreocupadamente tudo que me caia nas mãos. Lia pelo prazer da leitura: Proust, Balzac, Daniel Defoe, Rafael Sabatini, fotonovelas, gibis, livrinhos de bolso tipo 007 - A Espiã Nua que Abalou Paris, entre outros. Mas, foi um autor hoje bastante desconhecido, chamado Sérgio Antônio Raupp que me levou a praticar a escrita. Imitando um personagem do livro Os Sonhos de José, que escrevia tudo que sentia, acabei começando a escrever, ainda que naquele tempo eu detestasse poesia. Provável e ironicamente este é o embrião do que é minha poesia hoje. Mas, somente o embrião, porque depois fui percorrendo outros caminhos.


P - Com que idade?
R  - Penso que eu tinha uns onze a treze anos. Portanto, ser escritor pra mim foi mais uma questão de afirmação enquanto ser humano, da necessidade de me expressar do que algo propriamente mais racional... Percebo melhor hoje a frase de Antônio Cândido, “a literatura é um dos direitos humanos”, ao rever minha própria história. Enfim, esta não é uma história maravilhosa como tantas por aí, com um estrondoso charme intelectual, mas é uma história verdadeira e simples.

P - Quem são os seus ídolos na literatura? Ou quem é seu autor de cabeceira?
 R- Bem... não tenho propriamente ídolos, mas poetas que eu gosto. Por exemplo, Drummond, Bandeira, José Paulo Paes, Quintana, Hopkins, Vasko Popa, Augusto dos Anjos, Ezra Pound, Octávio Paz, Mallarmé, Celan, T. S. Eliot, Leminski, Maiakovski, Dylan Thomas e muitos outros contemporâneos (sou um entusiasta da poesia contemporânea). Mas, sei que todos esses grandes poetas escreveram poemas geniais e, também, faturas menores. Poemas péssimos, até. Mas, acho que a poesia é exatamente isso, essa experimentação, esse arriscar-se permanentemente. Conforme já disse, escrever poemas é não ter medo do ridículo. Têm autores, poetas ou não, que sempre estão por perto da minha cabeceira, como Fernando Pessoa, Bachelard, Roland Barthes, Morin, os citados acima... Enfim, alguns da poesia outros da filosofia. Mas, na verdade, minha cabeceira está sempre esperando uma leitura absolutamente nova. Gosto de movimentos novos, como os do grupo Caixa Baixa que reúne a nova safra de escritores da Paraíba, do núcleo Blecaute, também da Paraíba, dos Novos Escribas, do Rio Grande do Norte. Poetas como Mariana Botelho, em Minas. Em termos de poesia, penso que o fundamental é manter “a mente esperta, a espinha ereta e o coração tranqüilo”, como canta o doce bárbaro Walter Franco.

P - Você prefere poesias, contos, crônicas, novelas, ou qual outro gênero para ler?
 R - Eu amo ler bons poetas. Amo descobrir bons novos poetas (mesmo antigos que eu não conheça ainda) e adoro ler filosofia, teoria da literatura, ensaios... No momento essa é a minha preferência, o que não quer dizer que eu esteja fechado para outros caminhos. Mas, a verdade é que atualmente leio muito pouco conto, romance, crônica e ao mesmo tempo acho que os mini-contos são a grande sacada da literatura neste início de milênio. Na verdade é o melhor encontro da poesia com a prosa. Acho que Baudelaire já fazia algo parecido com suas prosas poéticas. Mas, hoje tem gente escrevendo coisas geniais. Uma delas é a gaúcha Laís Chaffe que, por sinal, foi editora do meu último livro. Em João Pessoa, tem Dora Limeira, por exemplo, que produz ótimos mini-contos. Não cito outros nomes para não ser cruel com minha memória.


P - E em qual deles fica mais a vontade para escrever?
R – Eu sou um escritor de poemas. Não arrisco outro gênero na literatura. Eu acho terrivelmente difícil escrever poemas. Penso que sempre meus poemas estão muito além do que poderiam, ou pelo menos do do que eu gostaria que fossem. As soluções que encontro nem sempre são as que acho mais adequadas. O problema é que, algumas vezes, fica difícil lidar com isso. Quando percebemos o livro já foi publicado ou o poema está comentado no blog... Mas, acho que isso faz parte.

 P - Teve crises de largar tudo ou rasgar seus escritos?
 R – Isso é permanente. Todo dia tento parar. Claro que não de maneira obsessiva, doentia... A vida sempre me coloca coisas no paralelo, para que essas preocupações nem me enlouqueçam nem me tornem um cara fútil, esparramado no próprio ego. Sempre digo que somente escrevo o que não consigo não escrever. E, rasgar não rasgo, preservo as florestas, mas... deleto muitos poemas, sempre. Sem pena. Quando tenho que selecionar poemas para um livro, deletar os que não considero razoáveis é o método mais seguro.

P - Costuma ter inspiração pelo estado de espírito, por ler outros autores, ou por algum lugar ou situação?
 R – Eu não acredito em inspiração. Acredito em necessidade de escrever e acredito no trabalho, na metalurgia da palavra. Quem escreve, escreve porque não consegue segurar o silêncio absoluto. Escreve porque se não a panela explode e voa caco de miolo e orelha pra todo lado. A inspiração é uma coisa muito divina e acho que muitas vezes para escrever você chega ao inferno e até mesmo ao confronto com o divino. Afinal, o divino é só um conceito, não? Acho que algumas emoções são mais inteligentes que outras e acabam ajudando, mas a inspiração é, na verdade, um trabalho de décadas com a palavra, um incêndio crítico e existencial do poeta, um processo de experimentação permanente que somente acabará com a nossa morte. Inspirar-se é trabalhar muito e permanecer de forma intensa na vida. É o apogeu da condição humana.



 P - Tem hábito de se levantar de madrugada para escrever se a inspiração convidar? Ou já teve?
 R – Nunca. No máximo levanto para fazer xixi. Algumas vezes a insônia me ajuda a escrever, mas quando durmo, estou mais para sonhar que para escrever. Não acredito que algo de extraordinário possa acontecer com a minha poesia quando eu estiver dormindo. A poesia tem uma racionalidade onírica. A poesia é o nosso mais racional delírio. Como diria Décio Pignatari, é uma aventura, mas uma aventura planejada. E ao mesmo tempo a poesia não é nada disso... E olha que não durmo a base de remédio. Não se pode confundir poesia com psicografia.


P - Escreve em qualquer lugar ( papel de pão, guardanapo, fila de banco, banheiro) quando uma idéia fica martelando?
 R – Em qualquer lugar, no máximo (com raras exceções) eu faço anotações. Eu escrevo mesmo é no computador onde sento exatamente com esta finalidade. A idéia que fica martelando faz com que eu me sinta um prego e, cabeça de prego, não arrisca poema nunca. Escrever sentindo-se um prego deve ser algo muito obtuso.



P - Ganhou algum concurso?  Qual?
 R – Não gosto de participar de concursos, mas já ganhei o prêmio Dom Quixote, do jornal O Capital, de Aracaju. Tive outras premiações, mas, não acho que um poeta possa ter medida a qualidade da sua produção pelos prêmios que recebe. Tem muito lixo premiado por aí. Alguns prêmios são engodos vergonhosos. Não as considero relevantes porque realmente não devem ter sido relevantes e porque não me emocionam, não me comovem. Pra mim, quando alguém se identifica com algum poema meu é um Jabuti que eu ganho porque, então, o poema lido estará completo. Afinal, penso que o poema, seja qual for o motivo, sempre se completa no olhar do leitor ou da leitora. O poeta é um parceiro e o leitor é outro parceiro na história de um poema. Os dois juntos talvez consigam construir um momento de poesia através da interpretação de um texto poético. Interpretar um texto poético é sempre uma forma de recriá-lo. E isso somente é possível com a boa poesia. Um mau poema é o que é decifrado imediatamente, até mesmo antes de lermos o último verso.


P - Tem livros editados? Algum projeto em vista?

 R – Tenho cinco livros de poemas publicados: O Comício das Veias (1993); O Guardador de Sorrisos (1998); Sem meias palavras (2002); Texto Sentido (2007); Poesia Sem Pele (2011). Tenho poemas em algumas antologias, em fanzines, blogs, sites, convites de formatura, jornais de bairro, de sindicatos, etc... penso em reunir uma seleção de poemas dos meus livros anteriores em um único volume, mas não sei quando. Mas, talvez seja este o projeto que me movimenta, neste momento, para o futuro. Sei lá, talvez daqui há 15 minutos eu pense diferente... rsrsrs


P - Qual na sua opinião é seu melhor trabalho?
 R – O que ainda não escrevi, com certeza.


P - O que sente não ter realizado?
 R – Na verdade, sou uma pessoa bastante inconformada. Acho que uma longa vida não será suficiente para realizar o que eu sei que sempre será uma utopia. Mas, enfim, são as utopias que nos ajudam a caminhar, como diz Galeano.


P - Qual o impacto dos e-grupos no campo da literatura ?
R – Depende das intenções das pessoas envolvidas. Se a pessoa estiver ali somente para escutar os famosos “clap clap clap”, ela não irá avançar em nada, jamais. Mas se o grupo existir para uma troca sincera, honesta, com o objetivo de compreensão estética dos trabalhos que estão sendo postados, pode ser um grande aprendizado. Eu já participei de vários. Uns muito bons e outros desabaram pelo excesso de vaidade de algumas pessoas e de incapacidade de outras. Hoje, não tenho mais paciência para esse tipo de convivência. E muito menos, tempo.


P - Até que ponto a Internet favoreceu a leitura/escritura ?
R – A internet favoreceu e muito. Num dos meus blogs www.lau-siqueira.blogspot.com tenho um texto sobre a importância dos blogs para a literatura contemporânea. Aliás, um texto que já foi publicado em alguns jornais e sites. Acho até que a internet nos ajuda a escrever melhor uma vez que é um instrumento importante para difusão do que existe de melhor e, claro, do que há de pior, também. Temos um panorama mais amplo do que se faz hoje no Brasil e no mundo, através da internet. Basta ter paciência para pesquisar, ter vocação para procurar agulha em palheiro. Mas, cada um sabe o que quer com a sua literatura. Se o caminho é só colher elogios e ter o nome estampado em alguma luminosidade... Então, desta forma, o camarada estará perdido porque ele vai escrever somente por isso e não porque está com a convicção de escrever, ou seja: com convicções, mas sem expectativas, sem esperar nada, sem esperar repercussão alguma. Escrever apenas porque acha que é imprescindível para a sua existência. Não importa o que pensem ou deixem de pensar. O escritor que exerce a sua vocação em busca de articulações de política literária, em busca de abrigar-se em algum grupo ou mesmo em busca dos elogios fáceis dos amigos, este está condenado e não sabe. Pode até ser imortal de academia, mas morreu para a literatura. A internet facilita, enquanto instrumento e enquanto possibilidade de linguagem, também. Mas, estamos falando aqui de algo bastante complexo e que já está despertando o interesse de pesquisadores no mundo todo. Já existe muito livro sobre isso. Acho que esta tua pergunta daria um ensaio, mas, por enquanto estou apenas ensaiando um jeito de me livrar da resposta de forma conseqüente. Lembro de uma amiga, Nálu Nogueira, que disse o seguinte: “ler é uma forma honesta de lembrar que sou poeta.” Achei isso tão profundo, tão genial, que coloquei como epígrafe em um dos meus livros.

P - Poderíamos afirmar que as novas tecnologias contribuíram para o desenvolvimento de novos gêneros literários ?
 R – Olha, acho que ainda é cedo para fazermos afirmações, sejam positivas sejam negativas neste sentido. Eu acho que a internet e as novas tecnologias estão sendo imensamente favoráveis à poesia e, como falei, ao mini-conto. A melhor definição do que é a literatura contemporânea, com essa tecnologia toda correndo por dentro e por fora da produção, eu li em Joca Reiners Terron: é como se abríssemos um liquidificador ligado. É o risco de saltar abacate pra todo lado. Acho que ainda não dá pra termos uma definição do atual momento. Seria muito arriscado, mas a tecnologia é sim um elemento que precisa ser considerado. Por exemplo, já se fala em literatura digital. O que é isso? Não sei, mas certamente o cânone do século XXI passará passará pela realidade digital.

Fale-nos um pouco do seu trajeto literário :
 R- Na verdade não comecei a escrever pensando em ser poeta ou escritor de outro gênero. No final dos anos setenta, tive uma certa sedução pela poesia marginal e cheguei a publicar alguns panfletos, ironicamente, anônimos. Depois fui descobrindo as vanguardas do final dos sécuilo XIX e início do século XX, a Poesia concreta e isso abriu janelas para uma melhor compreensao da poesia e dos caminhos que eu iria seguir. Publiquei meus primeiros poemas na coluna Do Brik a Brak da Vida, do Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Também publiquei no jornal A Evolução, de Arroio Grande-RS. Mais tarde, tive um poema publicado numa coletânea em homenagem ao poeta Mário Quintana. Depois, a partir de 93, fui publicando meus livros. Sempre com uma repercussão positiva que muito me surpreendia. Muitos leitores e leitoras jovens conheceram meus poemas nas agendas literárias da Editora Tribo, com boa distribuição nacional. Cheguei a ser publicado em algumas antologias em Portugal e aqui no Brasil, como a antologia Na virada do Século – Poesia de Invenção no Brasil, publicada pela Editora Landy e que trazia poetas conhecidos como Arnaldo Antunes, Frederico Barbosa, Cláudio Daniel, Glauco Mattoso, Claudia Roquette Pinto. Tem uma poesia de poesia brasileira contemporânea que será publicada na argentina, onde estou inserido. Outra de poesia paraibana. Uma de poetas do sul do país... Enfim, escrevo para jornais e revistas, como a extinta revista Discutindo Literatura e o jornal Contraponto. Não sei se isso é propriamente uma trajetória, a verdade é que acho que é apenas o começo de uma história. Mantenho dois blogs, escrevo improvisos pro Facebook e pro Orkut, tercetos, quase sempre. Gosto de brincar de seguir em frente e levar a sério a brincadeira.


P - Usa algum método para escrever os seus poemas/prosas/contos ?
R – Escrevo somente poemas. Este é o único gênero que exercito. E se já acho difícil demais, nem tento os outros. O meu método é sentar e experimentar. Escrever poemas é experimentar, trabalhar a palavra permanentemente, sem esperar resultados, apenas buscando soluções que, na maioria das vezes, nunca chegam como a gente quer.


P - Que conselho daria a alguém que deseje a vir ser escritor ?
 R – Tente desistir. Caso não consiga de jeito nenhum, então seja um escritor e se prepare para trabalhar a vida inteira sem, talvez, nunca ser reconhecido nem pela sua mãe ou pelos seus filhos. Mas, lembre que a família de Fernando Pessoa o chamava de “inútil”. Quando ele foi se internar no hospital para morrer, uma tia dele disse: “Aquele inútil do Fernando está internado.” E por considerá-lo inútil, não lhe deram o menor cabimento nem no momento mais dramático da sua vida. E aí? Vai encarar? Desiste, poxa! Melhor ser engenheiro, ou jardineiro... sei lá.



Bate bola / Ping Pong



uma alegria:
Minhas filhas e minha neta.

uma dor
 Ver que a fome, a miséria, o analfabetismo, a homofobia, a violência sexual contra crianças e adolescentes, a violência contra a mulher, o racismo e outras coisas estúpidas... Enfim, fico triste quando vejo que estas mazelas ainda são uma realidade em pleno século XXI.

um desejo
Mudar o mundo!

uma saudade
Do tempo que livrarias e cinemas não estavam nos shoppings.

uma doce lembrança
O creme delicioso que comi hoje na sobremesa.



Você por você mesmo:
Eu sou o meu maior desafio.



Uma poesia sua que mais gosta:
Não escrevi ainda a poesia minha que eu mais gosto, mas vou colocar aqui um terceto do meu livro recém lançado. Quem sabe alguém gosta e compra um livro... (rsrsrsrs)

viver é delicado
argumento de samba
sentimento de fado
A poesia com que gostaria de ser lembrado:

 Essa eu ainda estou por escrever... Espero nunca escrever o poema com o qual serei definitivamente esquecido.



Acaba de sair do prelo!




Poesia sem pele é o livro mais recente de Lau Siqueira e que já pode ser adquirido !
 O preço? R$ 10,00 nos lançamentos e R$ 15,00 para qualquer parte do Brasil, em correspondência registrada. Encomende o seu pelo e-mail poesiasempele@gmail.com



Lau Siqueira
(083) 8831.6849
POESIA SIM - www.poesia-sim-poesia.blogspot.com
PELE SEM PELE - www.lau-siqueira.blogspot.com
“Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz”.
(Roland Barthes)




                                              Obrigada por nos ceder essa entrevista!


Entrevista feita e elaborada por Angélica T. Almstadter com a colaboração de Cristina Pires
Membros do Grupo Ateneu


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Entrevista com Valdez de Oliveira Cavalcanti
Advogado e Poeta
Owner do Grupo Virtual Ateneu


Nome: Valdez de Oliveira Cavalcanti

Onde nasceu? Em Guarabira, cidade rainha do brejo paraibano, interior, a 100 km da capital

Começou a escrever influenciado por quem?Pelo interesse, a pretensão de querer ganhar as moçoilas. Muitas das minhas cartas, algo comum naquele tempo, correram mãos e provocaram suspiros.
Com que idade?
11 anos. Apaixonei-me pela contramestra de um pastoril que eu freqüentava. Somente me deu bola quando lhe fiz uma proposta de namoro em versos. Eram os meus primeiros versos. Apesar da idade já era louco por um chamego no escurinho.
Quem são os seus ídolos na literatura?Gosto de autores densos, pensadores. São muitos. Por economia de espaço destaco apenas Voltaire, Borges e Machado. Estes revisito com freqüência. Waldo Emerson é outro que sempre conservo à cabeceira.
Você prefere poesias, contos, crônicas, novelas, ou qual outro gênero para ler?
Poesias, contos e ensaios. Em matéria de leitura sou onívoro. Contigencialmente sou forçado a limites, escolher bem o que devo ler. Não me agrada lutar contra o tempo.
E em qual deles fica mais a vontade para escrever?

A leitura a qual me dediquei nos últimos anos me afastou da escritura. Paradoxalmente foi o desejo de escrever que me levou a aprofundar a leitura. Concordo com Borges: o que se pode escrever com 10 linhas não se deve escrever com mil.

Teve crises de largar tudo ou rasgar seus escritos?
Abandonei muitos projetos mas nunca desejei rasgá-los.

Costuma ter inspiração pelo estado de espírito, por ler outros autores, ou por algum lugar ou situação?A inspiração desenvolve-se junto com o trabalho contínuo. Do esforço nasce o interesse pela pesquisa, que detona a criatividade. Ao cabo, muitas vezes exausto, me perguntei em que caverna escondera aqueles conhecimentos esvanecidos. Refiro-me mais aos meus trabalhos jurídicos vez que dediquei poucos esforços aos puramente literários.
Tem hábito de se levantar de madrugada para escrever se a inspiração convidar? Ou já teve?
Não. Gosto de dormir. Se pudesse hibernaria como os ursos.
Escreve em qualquer lugar ( papel de pão, guardanapo, fila de banco, banheiro) quando uma idéia fica martelando?
O ato de escrever passa antes por um ritual. Certifico-me antes se todo o material do qual preciso está à volta. Montei muitos trabalhos só na cabeça. “A Despedida” foi um deles. Fiz no trajeto entre o escritório e a minha casa; quando desci do carro o soneto estava pronto e acabado.
Ganhou algum concurso?  Qual?
Literário? Sempre tive sorte com concursos. Arrebatei muitos. A maioria deles dos 16 aos 20 anos.
Tem livros editados? Algum projeto em vista?
Dois, três... Outro dia encontrei um livro da adolescência, financiado integralmente por mim. A revolução sexual dos últimos anos transformou-o num monte de besteiras. Sou mais o mundo de hoje. Era um livro alentado, mais de 300 páginas de poemas. Não lamento por ter me despedido dele.

Qual na sua opinião é seu melhor trabalho?
Há um que me emociona. Trata-se das “Razões Finais” de um processo crime, nas quais fiz uso do verso e da prosa. Um outro, também, jurídico, sempre me causa espanto tal a profundidade e argúcia desenvolvidos, jungidos a um estilo conciso, claro e apaixonado de que me orgulho.

O que sente não ter realizado?
Poderia ter sido o que escolhesse ser. Sempre tive muita confiança no meu taco. Assim sendo, não lamento pelo que não realizei. O que desejei consegui, e nunca desejei o impossível.
Qual o impacto dos e-grupos no campo da literatura ?
Dificil avaliar. Talvez as editoras possam dizer algo a respeito. Se e-grupos são minimamente responsáveis pelo crescimento de vendas de livros sua atuação é positiva.

Até que ponto a Internet favoreceu a leitura/escritura ?
Sim. Escrevo todos os dias e isto me faz depender cada vez menos de dicionários. É raro recorrer a eles vez me sinto seguro sem os mesmos.
Poderiamos afirmar que as novas técnologias contribuiram para o desenvolvimento de novos géneros literários ?
Hoje temos bem menos autores de ficção científica, sinal de que a tecnologias não estão gerando muitos autores. Andam uns bruxos e vampiros por ai que não me despertaram a menor simpatia. Verne, Wells, Azimov continuam insuperáveis. Borges e Bioy Casares têm lugar neste pequeno grupo, onde, também, incluiria Calvino pelo “Cavaleiro Inexistente”, não pertencesse este a outro tipo de ficção. A dar-lhe trela teria que incluir Garcia Marques e Carlos Onetti.

Fale-nos um pouco do seu trajeto literário :
Há uma palavra que bem define esse trajeto. Como começa em “a” a palavra “aporia” me bloqueia a evocação da que desejo. Diria que navego nas leituras, a exemplo de Borges. Hoje meu projeto maior é ser rato de biblioteca.
Usa algum método para escrever os seus poemas/prosas/contos ?
Penso muito antes de por algo no papel.

Que conselho daria a alguém que deseje a vir ser escritor ?
Escrever. O mais é complementar.


Bate bola / Ping Pong

uma alegria
Por anos refleti sobre os caminhos recomendados pelo Buda. Uma das vias para o Nirvana impõe a submissão do desejo. Não que acredite no Nirvana mas no equilíbrio e controle mental. De modo que a dor e a alegria estão umbilicalmente ligados ao desejo. Não tenho alegrias ou dores como antigamente. Tudo em mim está muito racional.

uma dor
um desejo
uma saudadeDe verdade, sinto saudade pelo amanhã, pelo que ainda não usufrui.
uma doce lembrançaDos primeirois amores

Você por você mesmo:Qualquer avaliação que faça sobre mim incorrerá em erro. Acho que seria um sujeito mais interessante se me permitisse errar mais.


Uma poesia sua que mais gosta:
A que está para ser composta


A poesia com que gostaria de ser lembrado:
Aquela a que me refiro no item anterior.


                                                Obrigada por nos ceder essa entrevista!
Entrevista feita e elaborada por Angélica T. Almstadter com a colaboração de Cristina Pires
Membros do Grupo Ateneu

Um comentário:

  1. Voc, meu querido...vc está mais velho...rsrs...eu tb...
    saudadesaudadesaudade
    nunca te esqueço,
    nunca vou esquecer...

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Obrigada pela visita. Esperamos que volte