Semana Olavo Bilac



Bilaqueando...

Na velhice
OlgaMatos
març/2002
Bilac , com certeza , viste o brilho
e ouviste o cochicho das estrelas
cheio de  sabedoria,
para poder estende - lo!
Ora , Bilac,  sequer eras tão velho! 
Quando daqui te  foste,
fazia dia em teus dias ,
primaveras floresciam , 
 nem conhecias as noites!
Como pudeste da velhice  comentar,
falar da tagarelice  dessas aves tão belas ,
se nada elas me dizem, não as posso escutar?
Apenas desejo, mas não vejo o que viste!
Nenhum pio ou bocejo de estrelas ou de aves!
Árvore, contudo, existe  arqueada na  velhice!




As estrelas não falam!
Cristina Pires

Mentiste-me!
Sim! disseste-me que ouvias estrelas
Quando o que tu ouvias eram fados,
Secretas confissões dos malfadados
Andarilhos dos becos das mazelas.

Mentiste-me!
Sim! Quem mais que eu, diz-me, amou um dia?
Digo-te eu que quem ama não é mouco,
E se canta às estrelas um dó rouco,
É porque teve o ermo por companhia.

Mentiste-me!
Sim! Tenho-as nas viúvas dos olhos meus,
As tuas estrelinhas tresloucadas.
E se lhes falo em noites alquebradas,
Dão-me como resposta um mudo adeus...



Seriam estrelas?
OlgaMatos
nov/2001
Não, não quero conter as estrelas,
que do céu são  redondilhas,
contentar-me -ia em compreendê-las
se pudesse ouví-las
Porém o brilho estelífero 
instiga-me  o rompante,
cinge-me o turbante
no instante da poesia !
De Bilac desconfio da audição,
pois que porfio  e não as escuto,
ciciam mudas... onde  estarão?
Que seja, as deixarei em  paz,
calarei esse refrão, que adeja surdo,
hirsuto incapaz e mudo  jaz!



Elas calaram...
OlgaMatos
Out/2001
Quase sem vontade,
escuto-me e silente , tento
breve sussurro de sinceridade,
temendo o que virá   de   dentro !
Lembro o poeta Olavo Bilac,
e  a rir-me penso nas estrelas,
aquelas , que pasmo e pálido,
Bilac ouviu e descreveu!
Elas não falam, apenas piscam !
 Ora , mais feliz teria sido.
se , a Bilac, não tivesse dado ouvidos !
Ah,  poeta  ensimesmada,
talvez , o deleita não te caiba,
ou chegaste atrasada , elas calaram !



Onde estarão as estrelas
Angélica T. Almstadter

Talvez na escuridão dos meus olhos,
Ou na sensibilidade da minha língua;
Porque jurei mantê-las aquecidas,
Iluminando sem cessar,
A dor que aos poucos míngua.

Quem sabe estejam no leito esparramadas,
Uma a uma delicadamente bordadas,
Para abraçarem meu corpo frio,
Que foge das noites por causa do vazio.

Sei que posso alcançá-las com a mãos;
Penduradas no meu teto,
Chorando pelas noites sem chãos,
Que matei sem afeto.



 Poeira das estrelas
OlgaMatos
nov/2001

Ora estrela ,ora sóis e luas,
arrebóis , poeira   a esmo,
sejamos pois nós mesmos,
cada um com suas fugas!

Cansei da rima com luares.
céus e cimos  ,  armarinhos,
cato cada um de meus  espinhos,
nos eus dos ecos estelares!

Rasguem cometas , fogaréus,
estrelas arremetam-se dos céus,
desde que não ateem em  meus véus !

Já não molham-me as chuvas.
A lua  , senhora das horas, desnuda
olha-me entre as nuvens !



Estrelas não ouço!
Angélica T. Almstadter

Não Bilac, não ouço tuas estrelas,
não que com elas não converse.
Há muito tento ouví-las, entendê-las;
acho que minha prosa de nada serve.


Amar talvez não tenha aprendido;
não de fato, para ouvir estrelas,
diria que por certo tenho esquecido
de acarinhar a alma para merecê-las.


Ora direis ouvir estrelas! Invejo-te !
Tão distante dos meus olhares;
não ouço ruído sequer! Rogo-te !


Dá-me um tanto de teus sentires
para que um dia; eu as ouça. Peço-te !
Caso contrário meu chorar hás de ouvir !



de sonhos e estrelas
odeteronchibaltazar

E teve a noite 
que teci estrelas em meu regaço,
enquanto a lua bordava,
em ponto luz, 
todos os sonhos 
de estar contigo no teu abraço.
E teve o vento que fez coreografias,
inventou mil passos,
embrulhou para sempre os meus dias
em tantos sonhos vadios,
enquanto eu,
sozinha,
me vi longe e para sempre de teus braços.


As estrelas de Bilac
Angélica T. Almstadter

Ando tonta por não percebê-las,
Brilham atônitas no infinito;
Serão tuas ou minhas estrelas?
Muita vez, ao vê-las, solto um grito!

Seu brilho a ele deram sem pejo,
A nós sobrou somente o que fica;
Reflexo a azular o feio brejo,
Bilac com a magnífica!

Tu merece por certo a glória;
Tu louvaste primeiro afinal
O esplendor da merencória,

Do que a nós parece irreal,
Deus consagre a memória
De Bilac; poeta imortal!





Onde estarão as estrelas...
lucelena maia
 
...Se eu as sinto no côncavo de meu corpo,
espalhadas
repousando nas pupilas de meus olhos,
mosqueadas
fazendo-me enxergar além das algemas
apertadas.
 
... Se eu as sinto presentes no céu de minha boca,
esculturadas
temperando com saliva todas as palavras
desajustadas
que teimam sair, de meus indóceis lábios,
amotinadas.
 
... Se eu as sinto como agasalho à fria pele
acinzentada
aquecendo em mim, muito além da superfície
macerada
dando-me luz para que eu busque as belezas
espalhadas
 
... Se eu as sinto penetrando em minha alma
fadigada
transformando-a pândega, calma e
aliviada.
Onde estarão as estrelas, se não, dentro de mim,
guardadas!


Último suspiro
 (a estrela que Bilac não ouviu)

Eliane Triska
 
Era noite, no cálculo celeste.
De pele escura, o céu, negro brilhante,
Ajardinou o chão da estrela amante
Que repetia a si: - Que me fizeste?


Cordilheiras astrais que a luz caminha,
Com gemas, meu amor, bordam o céu.
Eu, noiva triste, as rendas do meu véu.
Flores na Igreja... Vês? Estou sozinha.

Tua palavra, eu sei, não pode ver-me.
O meu vagar pulsou ausente a ti
No altar que poderias escrever-me.

Sem tuas letras torno-me a mortal!
Meu último suspiro, o que eu me vi,
Brilhei forte ao dizer-te: - Não faz mal!