quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Gestação


Angélica T. Almstadter

Ando gestando poesias,
Me despindo de palavras,
Coisas miúdas que já não me cabem,
Certezas que me sabem.
Estou parindo versos e prosas,
Regados com minhas primícias;
Quero cultivar jardins de lavras,
Gerados no ventre das minhas carícias.


Estou prenhe de amor,
Não para parir pessoas,
Nem fetos, objetos ou afetos;
Estou em estado de graça,
Acariciando a alma em flor,
Mimando-me com cânticos e loas,
Enfeitando meus pés e meu trajetos.


Estou grávida de um vulcão,
Desde a última chuva, da última lua.
Em berço alvo e discreto,
Vai nascer um furacão secreto,
Pra romper a cara no dia,
Varrer do meu corpo a agonia,
Pacificar minha fisionomia.
Estou gerando o meu mundo,
Nas fissuras do meu peito.


Vou parir sem dor,
Num rasgo lento e profundo,
O cataclisma mais que perfeito,
O abstrato fruto de silêncios,
De aromas; o meu amor,
Atravessado por milênios

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