quinta-feira, 15 de julho de 2010

http://www.travessa.com.br/Busca.aspx?d=1&cta=1&tq=tarja%20branca

“Me” Abraça!
Rosa Pena




Eu queria menos dez anos.
Não pela idade, essa nem traz tanta saudade, mas porque eu vomitava poemas, versos de alguém que sonhava.

— Garçom traga outro chope!

Eu queria que hoje fosse dezembro de 1999. Com as gêmeas espiando o céu de Manhattan, burcas sem ameaças e Peterson tocando Tenderly.
— Peça um tira- gosto de nostalgia.


Eu queria que amanhã fosse janeiro aqui no meu Rio e você, com um sorriso, correndo no calçadão sem filtro solar.
— Aperta minha mão?


Eu queria de volta aquele fevereiro imperfeito que teimava em ser junho e se vestia de dia dos namorados.
— Tô caduca?


Eu queria um março com águas sem acidez, uma calda de doce com muito açúcar zoando do Zero cal.

— Me olha nos olhos.



Eu queria um abril sem primeiro, que desmentisse que não mais existe um cantinho e um violão.
Consegue ver o Corcovado com essa constante neblina?



Eu queria um maio com minha mãe pra eu fazer um lindo cartão.
— Tem um cisco no meu olho?

Eu queria um junho de caipira, bolo de fubá e que no céu só explodisse fogos de artifícios.
— Repara no meu arrepio.

Eu queria um julho com férias escolares, crianças sem alcunha de pivete e sentir a paz dos justos no coração.
— Quantos morreram no Haiti?


Eu queria aquele agosto que desmente a rima, que quebra a sina e se antecipa em flores.
— Não me fale das criadas em estufas que nascem sem o beijo do colibri.


Eu queria um setembro com cheiro de tangerina brincando que é outono.
— Frutas agora, em qualquer época do ano, têm gosto de importação.


Eu queria um outubro contente e soprar minhas velinhas com Sabino novamente.
—Viva o Fernando!


Eu queria um novembro com dia dos vivos e com orgulho da nossa bandeira.
— Quantas medalhas o César Cielo já tem?


Eu queria um dezembro que não fechasse o ano e que voltasse para esse janeiro que tinha o jeito de filho recém- nascido.
— Por que não inventaram a cura pro tempo?


Mas o que eu queria mesmo era reencontrar-me e sentir que apesar desse mundo estar tão do avesso ele vira direito quando tenho você presente na batida do meu peito.

— Preciso de um abraço já!




 Livro Tarja Branca
A venda na Livraria da Travessa
http://www.travessa.com.br/Busca.aspx?d=1&cta=1&tq=tarja%20branca

3 comentários:

  1. Que coisa tão linda, Rosinha!
    Nem tenho palavras.
    Parabéns.
    Beijos

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  2. Abraço grande pra compensar tudo que está fora da ordem!

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  3. Ceiça e Kika.. Obrigada minhas queridas.Vocês são de um carinho, um respeito, uma elegância ímpar. Beijos mil..rosa

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